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Brasil pode liderar a transição global para uma bioeconomia livre de desmatamento

Insight / 8 Aug 2024

No cenário mundial da ação climática, o Brasil está no centro das atenções.

Por Isadora Carvalho e Luis Meneses*

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Todos os olhos estão voltados para a Cúpula do G20 que se aproxima em novembro, com a conferência climática global da COP30 ao fim de 2025. Com vastas áreas naturais e forte setor agropecuário, o Brasil tem, ao mesmo tempo, alguns dos maiores riscos e a experiência mais relevante na agricultura livre de desmatamento. À medida que o país traz uma visão transformadora da bioeconomia para o mundo, há também potencial de moldar positivamente o diálogo global sobre negócios, finanças e florestas.

Há uma clara necessidade de ação urgente. As recentes secas, inundações e incêndios na Amazônia, no Rio Grande do Sul e no Pantanal infligiram impactos devastadores à população e à natureza. A crise também se faz sentir tanto na produtividade das colheitas quanto nos faturamentos, uma vez que condições meteorológicas instáveis ​​e extremas ameaçam o futuro da economia. Os cientistas estimam que as mudanças climáticas nas chuvas podem impactar negativamente 51% das terras agrícolas na Amazônia e no Cerrado até 2030.

Os debates sobre a Lei Anti-desmatamento da União Europeia (EUDR) mostram que, mesmo quando diferentes partes interessadas têm como objetivo comum o desmatamento zero, há diferentes caminhos a seguir. Por exemplo, as empresas e os países importadores concentram-se frequentemente no desmatamento associado às suas próprias cadeias de abastecimento. Mas será que soluções individuais se traduzem em um resultado global ou apenas em um mercado segmentado? O sucesso exigirá uma ação coordenada nos principais setores agrícolas e uma parceria significativa entre os países importadores e produtores, incluindo a partilha equitativa dos custos.

As empresas e as instituições financeiras estão avançando cada vez mais com planos de transição climática e positivos para a natureza, em aderência aos acordos internacionais. Isto envolve compromissos em torno do fim do desmatamento, da conversão de vegetação e das violações dos direitos humanos relacionadas às cadeias de abastecimento e aos portfólios de investimento. O Brasil pode ajudar a moldar a forma como essas partes interessadas entendem as melhores práticas. Isto não só produzirá melhores resultados para a natureza (interesse de todos) mas também poderá reforçar a posição de liderança do Brasil entre os exportadores.

Muitas iniciativas pioneiras no Brasil podem ser fundamentais para a forma como os padrões internacionais definem a agricultura sustentável. O Brasil possui uma regulamentação de uso da terra altamente avançada, incluindo o Código Florestal, e algumas das mais avançadas bases de dados quando se trata de transparência e monitoramento de ecossistemas. Isto permite demonstrar, por exemplo, que o desmatamento afeta apenas uma minoria das áreas produtoras.

Esta concentração geográfica oferece uma oportunidade para ações específicas para tornar estes setores livres de desmatamento e proteger direitos humanos. Crucialmente, o compromisso com a transparência para permitir o monitoramento e a verificação desta ação pode dar vantagem aos setores agrícolas do Brasil em um mundo onde os compradores buscam cada vez mais fontes sustentáveis, inclusive devido a pressões legislativas. O Brasil pode exportar não apenas produtos agrícolas livres de desmatamento, mas também práticas e padrões inovadores que o resto do mercado global necessita na transição para uma economia mundial sustentável.

O setor financeiro também tem um papel central. De Nova York a Frankfurt e Hong Kong, os organismos de normas e regulações estão voltados cada vez mais para os riscos e impactos relacionados à natureza dos empréstimos e investimentos. A Global Canopy tem um longo histórico de atuação neste espaço, inclusive como parceiro fundador da nova Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD, em inglês). Trabalhamos em colaboração com as principais instituições e redes financeiras globais nos dados, métricas e estruturas necessárias para compreender e responder aos riscos relacionados ao desmatamento em suas carteiras.

Bancos e florestas podem não parecer parceiros naturais óbvios, e o intercâmbio sobre desmatamento entre as partes interessadas internacionais e brasileiras envolverá encontros entre diferentes estruturas e pressupostos. Pode haver atrito, mas sabemos, pelo nosso trabalho de promoção da transparência, que isso pode ser produtivo, levando a um melhor entendimento partilhado. Fundamentalmente, estas esferas não estão separadas – não haverá retornos econômicos ou financeiros sem um mundo natural próspero. Nos próximos dezoito meses, o Brasil será um importante definidor da agenda numa transformação global, e a liderança dos setores público e privado em matéria de natureza, clima e florestas poderá fazer uma diferença vital.

*Isadora Carvalho é líder de engajamento financeiro sustentável na Global Canopy. Luis Meneses é Diretor do Programa Brasil da Global Canopy.

Image by Niall Corbet/ Flickr

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